
Patuá/2012
Porta aberta e vestibular. Corredor imenso por onde andar, olhar, sentir, fingir, abrir-se, deixar-se. Um cabedal de coisas por vir. Um porvir, principalmente. Delias deixou na sarjeta da primeira janela, ali pertinho do muro de sua casa de silêncios, um dizer de liberdade, onde as águas de seus poemas percorrem um campo sem rima e sem normatizações. Delias inunda aquele que lê, já no primeiro passo dado, os pés-almas do ser. Vontade de entrar mais, de fiar: tear. Novelo de acariciar os desatinos do destino. Porque nada é parado no tempo, tudo pode ser outro mesmo quando parece não. Diz Delias sobre as rotas ainda não idas, talvez, quase idas, quase voltas, quase tidas. Mas era preciso entrar dentro, assim mesmo redundantemente, para saber a hora de percorrer dúvidas. Primeira pergunta escancarada: “eu estava aqui dentro, você me ouvia?” seguido do verso que dá nome a obra. Delias-poesia, uma boneca russa em casa de silêncios. Delias-poemas, uma dentro de cada um.
Germano Xavier
Encontre o livro no site da Patuá:
Conheça dois poemas do livro:
Retratos
há um não-lugar para todas essas coisas
meu mar em fúria, seu chão em sépia
retratos de uma solidão céu aberto
mas disse-me assim:
prefiro você entre as orquídeas
...
Dentro
eu estava dentro do quarto
havia tanto dentro, você dizia
tantas portas e ruas e longes
como dias e horas e versos
apinhados de sede e de ontens
eu estava aqui dentro, você me ouvia?
boneca russa em casa de silêncios
antes do verbo, dentro da carne
meus tambores apontavam a direção
tão dentro, tão dentro, você repetia
e eu naquele vestido cor de arco-íris e espera
sandálias vermelhas, vontades, pulseiras
poemas espalhados por todo o chão